DEIXAI-AS TODAS P'RA MIM

Quem tem olhos e barriga

Maiores do que lhe convém,

Seja cigarra ou formiga,

Engana e engana bem.

 

- Tem alma de judeu. Onde lhe cheirar a lucro, aí está ele a meter a sua colherada. Nem aos irmãos lhes perdoa. Ele bem reconhece que os amigos são importantes e merecem a maior consideração fora dos negócios, mas a sua egomania cega-o.

- É bem verdade que está em maré de rosas, Duarte, mas quando lhe aparece uma burra de saia, sai logo do sério a ver se lhe toca qualquer coisa – reforçava o Januário que se vira metido em algumas confusões pelo simples facto de o acompanhar. – Se contasse tudo o que sei.

- Bem entendo. Enganou-te algumas vezes.

- Teria de nascer sete vezes – protestou ferido nos seus brios de filho de negociantes e sempre a lidar em compras e vendas. – Cada vez que aparece um homem astuto há de aparecer logo outro mais refinado que lhe passe a perna. No caso dele também é assim. A destreza foi-lhe distribuída a ele e a muitos outros. Na minha vida lidei com maiores trafulhas e nunca me saí mal.

- Mas que é esperto…

- … sem dúvida. Podia estar podre de rico se deixasse as saias.

- Acreditas que o gaste com as…

- … para lhes agradar. Ninguém dá nada sem receber algo em troca.

Que o Joaquim era mestre no ofício e fino para o negócio, ninguém punha em causa olhando para o seu nível de vida e os aumentos que fizera ao casal que herdara desde que decidira abrir comércio com o prémio que lhe saiu na lotaria do Natal no ano em que casou. Por brincadeira, os sogros lembravam-lhe que tinha sido sorte a dobrar, uma vez que a Inocência era um pedaço de mulher e nunca andara nas bocas do mundo por libido ou cupidez. Ria-se da inocência dos sogros pois bem sabia a facilidade que tivera em conquistá-la, mesmo sabendo que havia filhos dos anteriores casamentos, mas deixemo-los na paz dos anjos enquanto o genro experimenta os prazeres dos homens. É seletivo nesses prazeres. Valha como exemplo o facto de nunca ter sido grande apreciador de álcool nem amante do jogo desde que estivesse dinheiro em jogo. Nem era tanto por ter aversão ao dinheiro fácil, mas porque tinha a convicção profunda que ou se há de ter sorte no jogo ou no amor. Ora, como tivera facilidade em escolher a três mulheres com quem casara até essa altura, além daqueles flirts esporádicos que alardeava em círculos restritos de homens maiores de idade, era óbvio que no amor se considerava bem-sucedido e no seu subconsciente soava-lhe uma voz que recordava que qualquer incursão na outra área só poderia correr mal.

- As mulheres andam cegas ou entregam-se ao primeiro macaco vestido de calças que lhe aparece. Entende-se lá que uma rapariga dessas se meta debaixo do meu Joaquim – ripostava a esposa quando lhe vieram segredar pela enésima vez que o tratante andava agora com a filha mais velha do ferreiro, um pedaço de mulher de fazer inveja a muitas moças novas.

Palavras! Naturalmente que, no que ao físico respeitava, o Joaquim era um homem quase perfeito aos olhos da esposa. A reserva inerente ao “quase” deve-se apenas ao facto de ela sempre o ter conhecido como mulherengo e descobrir nele algum juvenilismo tardio. Fora assim que lhe caíra nas mãos. Pouco mudara desde a hora em que ela acreditou que estava podre de rico e que sempre havia de chegar o momento em que caísse em si e tivesse vergonha do passado. Jurou emendar-se muitas vezes, mas os hábitos estavam tão enraizados que pô-los de lado seria como se vestisse uma nova pele para acolher uma nova alma. Isso nem pensar e talvez nem ela se habituasse facilmente a conviver com outra espécie de homem. Quisera-o assim uma vez e continuava a sentir um certo orgulho em ser a mulher privilegiada do seu coração.

A esposa continuava a acreditar nele contra todas as lógicas e evidências. Cegueira de quem ama sem reservas ou generosidade forçada de quem precisa de se sentir segura nos braços de alguém, o certo é que tudo lhe desculpava e desvalorizava e em tudo o que lhe ouvisse acreditava contanto que lhe colocasse nas mãos o suficiente para governar a casa como gostava. E nisso – honra de seja feita ao Joaquim! – cumpria como um marido exemplar e pai acautelado.

O homem conhecia bem a matéria de que fora feito: carne, pouca carne porque a gordura levava a formosura e essa vertente era relevante nos momentos de sedução para a sua ginecomania.

- Está decidido. Quando encontrar o mais pequeno indício de me ter dado a meningite, retiro-me de vez e haja quem apareça a substituir-me porque:

Por muito que o sexo me atraia
E nunca lamente que é demais,
Respeito qualquer rabo de saia
Que prefira ter o que vós dais.

Dar a meningite era como eufemisticamente se referia às valências que a idade levara, pois no que toca a negócios de alcova ainda estava ali para dar assistência a qualquer esposa desavinda com o marido ou moça sem namorado ou chateada com ele, que lhe ficasse ao alcance dos apetites comuns. Inclinação com sucesso, garantem os vizinhos e vangloria-se ele como sendo a reação normal de qualquer homem frente a semelhantes casos. Se fosse uma esbelta figura, na flor da idade, solteiro e sem compromissos, estava tudo explicado. Pelo contrário. Faltava-lhe tudo isso e outros atributos que o impusessem aos olhos das mulheres para lá da esperança de algum lucro na loja que explorava e uma reforma da mina no fim de cada mês. Qualquer um acharia isso pouco ao saber que ao seu lado moravam muitos outros cujos rendimentos o deixavam a léguas. Pois bem, era voz corrente que teriam sido muitas as mulheres que se lhe cruzaram na vida e na cama depois de ter ajoelhado perante o altar para receber a Inocência. As más-línguas havia muito que deixaram de o incomodar. À mulher sim pois considerava-o sua propriedade exclusiva e, cada vez que se levantava algum burburinho, renovava-lhe o pedido de juras de amor e a garantia de que aquela tinha sido a última vez pois, de contrário, punha-lhe uns patins e mandava-o a mentir para outro lado.

Perante tal sentença, decretada entre gritos e lágrimas, a sua resposta era invariavelmente uma ladainha de declarações de amor a propósito e a despropósito com tal arte, tempero e engenho que à pobre da senhora só restava tomá-las como sentidas, honestas e duradoiras.

Bem se enganava aquela alma cândida a quem o Joaquim consumira a virgindade e a paciência. O ar compungido com que o melro saia da sua presença esvanecia-se ao transpor o portão pois a sua natureza galhofeira e escassamente satisfeita por quem tinha semelhante incumbência era incorrigível, mesmo que ela o acompanhasse sempre.

No café ou pelo caminho, com jovens ou com adultos a sua conversa andava sempre em torno do mesmo tema: saias. Todos lhe conheciam os gostos e toleravam alguns excessos de linguagem e lascívia. Nunca o tomaram por mentiroso, mas que tinha as suas saídas que deixavam muita gente de boca aberta, lá isso tinha.

- Levei para a cama metade das mulheres daqui – cochichou certa vez ao ouvido de Carlos.

- És um baboso! Vontade tinhas que chegasse… - atalhou, convencido que na metade restante estaria a sua Guilhermina.

- Juro que é verdade. Se a minha Inocência soubesse da missa a meio…

- Gola. Cão que ladra…

- Pensas que todos são como tu? Ainda continuo a surpreender-te: pensava que algumas eram osso duro de roer e caíram como tordos. Também me aconteceu o contrário: estar a pensar que aquilo eram favas contadas e, na hora de verdade, tive que suar as estopinhas para levar a água ao meu moinho. A minha vida dava um romance do caraças…

- Só se for pela tua cara… Está a crescer-te o nariz.

- Ouve lá, Carlos, conheces-me há muitos anos e alguma vez me apanhaste em mentira?

- Às vezes…

- Estás a brincar. Palavra que sai da minha boca é como se a lesses na Bíblia, meu amigo. Se vejo inconveniente em apresentar a verdade, calo-me.

- Assim devia ser – rematou o Dinis, também ele a ensaiar amores adúlteros desde que a mulher engravidou.

- É assim mesmo. Aproveito as oportunidades. Que custa tentar? Sem trabalho, alguém vem ter comigo ou contigo? Pensa lá bem. A tua mulher anda por aí feita maluca a olhar para os homens casados? São todas iguais. Se ninguém as desencaminhar, são fidelíssimas aos maridos. Com as solteiras é o mesmo esquema. Atiro o barro à parede, se cola, cola, se falha… siga a marinha. Quem quer a bolota trepa e tem de estar preparado para levar a nega e a uma distância suficiente para fugir a dois pares de estalos.

- Ou umas vassouradas.

- Pode acontecer. Até hoje…

A conversa continuou com as suas venturas, aventuras e desventuras. A deontologia profissional obrigava-o a respeitar os clientes da sua loja e a guardar segredo, fosse a que pretexto fosse, sobre os calotes que lhe pregavam ou as dívidas que estavam registadas sem grande esperança de virem a ser saldadas. A necessidade de guardar só para si os assuntos da loja, criara-lhe o hábito de falar abertamente de dívidas sem citar os devedores e de sexo sem revelar os atores que com ele partilhavam o papel principal no filme da sua vida.

Entre os presentes havia quem se queixasse dos ouvidos a semelhantes alarvidades por acreditarem que os homens casados tinham obrigação de ser moderados na linguagem para servirem de exemplo aos mais novos. O Joaquim identificara-os há muito e sentia um prazer especial em os afrontar com as suas fanfarronices. Raramente lhe replicavam por respeito às suas cãs, porém o Duarte tinha fama de maltratar tudo e todos quando o picavam. Escutar-lhe com altivez que havia por ali muitos maridos enfeitados, constituía um insulto dirigido a todos os homens casados, uma vez que se despersonalizava a acusação. Ora aquilo incomodava-o.

- Deixa-te disso, meu rapaz. Cada vez está mais na moda um adorno desses.

- O senhor Joaquim gostava que a sua Inocência lhe pusesse um par de cornos? Se lhe tocasse pela porta, achava-lhe alguma graça? E nós?

Há dois pesos e duas medidas
Perante as mesmas atitudes:
Se é homem, cumpre medidas;
Se é mulher, foge às virtudes?

- Sou filho de algum fotógrafo? – reagiu cínica e ironicamente. – Se ela achar que precisa de assistência variada… Nesse caso a culpa seria dela e só dela. Ia indispor-me com o safado que a levasse para a cama?

O Duarte concordou sem grande convencimento enquanto cofiava a garganta a transmitir aos presentes que aquilo eram lérias sem ponderação. A indiferença que teve em resposta provocou-lhe uma reação natural. Devia ser ele que estava a exagerar. Precisava de maior frieza nas decisões que lhe interessavam. Decidido. A partir daí pensaria várias vezes antes de a agir, a começar pela decisão que vinha acalentando de despejar a cartucheira da arma sobre a mulher e qualquer amante que lhe descobrisse.

- Gostava de ver a tua reação se uma boazona te abrisse a casa e as pernas – desafiou-o o Dinis.

- Ninguém recusa um bom prato que lhe ponham à frente, mesmo que ande bem nutrido.

Joaquim fez um gesto com os dedos em sinal de concordância. O gigante dos bons princípios assumia pés de barro e a sua fidelidade aguentava até à próxima oportunidade. Como lhe ouvira mais vezes essa confissão de fraqueza, tirou partido da disposição para consentir que todos somos iguais e chamou-o à razão. Por interesse o fazia: convinha-lhe continuar a tê-lo como fraca ameaça, conhecendo-lhe os antecedentes familiares e o título de posse de uma mulher alto lá com ela.

Aquela conversa de quarentões interessou os jovens. O Paulo abeirou-se tranquilamente para meter a sua colherada. Passou a ocupar o centro da roda de atenções.

- Namoradas?!... São ramos de souto, vão umas e vêm outras.

- Trazes a Adorinda pelo beiço, Paulo. Fazes bem. Olha que tenho visto cá umas coisas que me levam a crer que tens a batalha ganha se continuares a teimar.

- O senhor Joaquim está a falar por opinião. Alguém lhe trouxe uma palavra e você fez dela um discurso.

- Gosto de ouvir a juventude. Tem opinião positiva sobre as mulheres. São anjos, são flores, tudo o que há de bom.

- A Adorinda é uma mão cheia de atributos, que acha?

- Fica no que te parecer. A minha opinião é que bem pouco gado rachado lhe faz concorrência. Quando passa, dá-me cá um formigueiro…

- A si. Imagine o efeito em mim. A missão está difícil. Teve dias melhores. Começámos com algum entusiasmo e as coisas têm vindo a arrefecer.

- Aperta com ela. Olha que é tempo aproveitado. Aquilo deve ser de comer e chorar por mais.

- Para umas voltas, estaria bem, como mulher para uma vida, nem pensar. É verdade que dá alguns sinais de interesse, mas faz a mesma coisa a todos. É leviana demais para o meu gosto.

- Conheço essa música doutras andanças. Quando falhamos o assalto, desfazemo-nos em desculpas como se fossemos nós a recusá-las…

- Faz-se cara, é verdade, mas tem pouco de séria. Trata-me com algum desdém por se ter por mais rica do que eu

- Dessas é que gosto, Paulo. Quando caem desfazem-se como chocolate na boca.

- Acha que pode ser carne para os meus dentes?

- Se te ensinasse o que sei, ficavas a saber tanto como eu, mas podes estar ciente: só te cai nos braços se fizeres por isso. Se começas a dar sinais de desinteresse.... Quem porfia mata caça… exceto se for abaixo das canelas.

Vejo, em todos, um freguês
E por isso os trato bem
À espera que chegue a vez
De me retribuírem também.

- O senhor Joaquim lá sabe!...

O moço reconhecia-lhe méritos de sobra, e era apenas uma parte deles. Tinha consciência que havia graus diferentes de dificuldade conforme as necessidades ou a riqueza, a assistência ou a falta dela, os atritos ou a harmonia familiar. Tudo isso dava sentido à sua vida de conquistador obstinado.

Os cabelos brancos começavam a ser um impedimento na arte da galanteria. O Joaquim começou a aperceber-se disso quando passou a ouvir que estava a ficar velho. A sua Inocência nunca se queixara porque nunca encontrara razão de queixa no seu desempenho e as cãs foram aparecendo lentamente sem que fosse possível apontar uma data a partir da qual entrara na terceira idade. Pintar o cabelo era uma hipótese que várias vezes equacionou, mas o temor das reações alheias inibiu-lhe a decisão. tinha de manifestar a sua juventude com outros sinais menos notórios e a pele das mãos e do rosto tinham começado a associar-se ao incómodo do cabelo. Um tratamento que levasse as rugas que os anos traziam daria um contributo enorme para que a autoestima se mantivesse em alta. Foi fácil apostar no uso de cremes de rejuvenescimento da pele. Ao alcance da mão e da carteira, bastava convencer a sua Inocência da necessidade de cuidar da pele e a partir daí usarem ambos os mesmos produtos.

A santa mulher sentiu-se honrada com essa atenção do marido. Convenceu-se que estava a acontecer um retorno serôdio aos bons tempos de namoro e deu-lhe carta branca para a brindar com as marcas e modelos que lhe aprouvesse.

- Preciso da tua ajuda – interpelou-a quando a cachopa entrou na sua loja para comprar uma barra de sabão azul que logo iria utilizar nos lavadouros públicos. – A minha patroa vai fazer anos e queria oferecer-lhe um produto para tratar das rugas da cara e das mãos. Podes indicar-me algum?

Quase sempre nos fica caro
O que se compra duas vezes,
Por vezes nem sequer reparo
Que o faço todos os meses.

- De repente varreram-se a marcas, mas vou pensar nisso e transmito-lhe qualquer coisa. Quer muito barato ou pode ser caro?

- Bom.

- Deixe isso comigo.

Nessa tarde poupou-se a casaca das vizinhas naquele lavadouro. Dado o mote para a sugestão de um produto bom que mantivesse a juventude da dona Inocência, aquele harém disponibilizou-se a valer a um aflito. Deixemos de lado as razões que as terão movido a tanta generosidade, mas há, pelo menos a certeza, que quanto mais harmonia houvesse na casa dele, mais paz se respiraria na delas porque nunca se sabia quando pudessem soltar-se as línguas maldizentes que as atingissem e cada uma sabia dos estragos ou arranjos que tinham sentido da sua parte. A Adorinda era a única que estava isenta se motivo para se penitenciar. A maldade das restantes pode tê-la incluído no mesmo rol, mas ninguém se atreveu a esboçar um sorriso, uma frase ou qualquer gesto que a pusesse em pé de igualdade com aquele rancho de mulheres casadas. Bem sabemos por que o fizeram, mas adiante.

A moça cumpriu a missão. A compra obedeceu às instruções e a aplicação à literatura que acompanhava o produto.

- Detesto aquilo, Adorinda – queixou-se passadas três semanas.

- Dentro da gama média de produtos de beleza, é do melhor que anda no mercado.

- Há melhor?

Que sim, que havia produtos que operavam autênticos milagres e que só tinham o inconveniente do preço, informou-o.

- Quanto podem custar?

- Isso agora!... Há para todos os preços, mas perca cuidados que um dia destes passo por uma perfumaria e trago-lhe valores corretos com a indicação das marcas e da quantidade do produto. Isto é importante. Se a embalagem trouxer pouco, fica mais em conta. Em contrapartida…

- Queria um creme em condições que dê para várias vezes. Levas dinheiro e…

A rapariga queria declinar a responsabilidade da escolha. Preferia apresentar uma lista de alternativas. O senhor Joaquim queria ganhar tempo na pista do galanteio. Pedir-lhe ajuda e trazê-la entretida com as suas exigências era uma forma de garantir que giraria à sua volta até ao momento em que a visse retirar a acusação que lhe fizera de ser muito velho para ela. A partir daí, outro galo cantaria.

- Também tenho usado o creme, Adorinda.

- Era desnecessário ir tão longe nas revelações. Sabia desde a primeira hora que o creme era mais para si do que para ela.

- Na verdade, uso-o mais eu, mas está nas coisas dela.

- Quando me veio com aquela de que estava a falhar, fixei-o e pensei: está a mentir. Qualquer cego vê que está a ficar mais jovem.

- Nota-se? Gostas? Valeu o dinheiro?

O Joaquim habituara-se a saber esperar. Tinha levado muitas tampas, mas também conseguira muitas vezes levar a água ao seu moinho. Desta vez, começava a dar a mão à palmatória. O Paulo pintara-lhe as coisas de tal forma que lhe pareceu ser um investimento importante. Era de mulheres difíceis de conquistar que gostava. Desta vez a dificuldade tornou-se tal que melhor se chamaria impossibilidade. Insistiu. Desistiu. Esperaria melhor oportunidade. Teve-a. Foi mais uma. Nunca lhe pareciam demais nem com mazela que o impedisse de lhe satisfazer as primeiras necessidades, ou as necessidades acumuladas pela longa espera do marido ausente, ocupado ou distraído dos deveres conjugais.

- Sabe quem é a minha namorada? – perguntava-lhe o Daniel. – Viu-a muitas vezes.

- Assim, sem mais… Só depois de contares em que ponto vai essa aproximação.

- É a Fátima. Bem... falta pouco. Estamos a começar e acho que tudo está a correr demasiado bem. Receio que esteja a perder tempo porque ela sabe muito. Quando é assim…

- Manda fazer uma de encomenda - contrapôs mordaz. -  Ao menos tens a certeza que ali ninguém mexe. Manda-la fabricar de barro no Beco do Pintarroxo

- O senhor Joaquim tem cada uma!... De barro? Viu-se alguma vez uma mulher de barro?

- Para alguns figurões como tu, têm de ser feitas de encomenda. Vê bem: a Fátima desagrada-te porque é demasiado fácil, a Ana pode pegar-te alguma doença, a Albina porque anda na droga…nenhuma te serve.

- Trata-se de coisas demasiado sérias para se receber a primeira que aparece.

- Esta juventude é difícil de entender! Estais fidalgos? Deixai-as todas para mim.

Júlio Rocha (26/6/2025)

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