QUERIDO DESTINO
A morte é companheira da vida,
Mas foi talhada para a vencer,
Quase sempre sem ser pedida
Em alguns casos por querer.
As representações
a meu respeito costumam ser pouco simpáticas como se isso alterasse por pouco
que fosse a minha ação e relação com as pessoas. Respeito as dimensões lúdica e
morigeradora da arte sacra e profana e associo-me aos sorrisos escarninhos a
meu respeito para que os artistas de sintam suficientemente compensados do seu
esforço inglório. É estranho que tolere essas ofensas? Cada um é livre de
pensar o que quiser. Eu sou uma senhora de respeito quanto aos pensamentos e
convicções de cada um sem que isso me obrigue a mudar a minha personalidade
para colher simpatias de quem quer que seja ou a tratar de forma diferente os
que me respeitam e os que me maltratam. Talvez seja por isso que o meu reino
nem aumenta nem diminui ao ritmo das modas.
Os
artistas, por serem uma classe privilegiada, tinham obrigação de saber isso e
de agirem em conformidade, mas preferem agir como se fossem imortais só porque
fazem um qualquer borrão com o qual acham que conseguem multiplicar a legião
dos meus inimigos e acabarem comigo de vez. Desenganem-se. A quem julga que me
tem sob a sua alçada, advirto que eles passarão e eu continuarei a existir como
está demonstrado desde o início do mundo.
Néscios! Esquecem-se que também eles estão sob a minha alçada e quando achar oportuno irei buscá-los, independentemente da forma como me trataram. Até por isso, sou mais imparcial do que muitos deles que me confundem com o diabo ou quaisquer outros seres estranhos que lhes enchem o imaginário: podia vingar-me da forma sobranceira em que os vejo colocarem-se, mas prefiro olhar para a sua efemeridade com o distanciamento crítico que me é inerente.
Pintam-me das cores mais sombrias,
Com uma caveira e uma gadanha,
As minhas unhas são garras frias,
Nos pleitos sou eu quem ganha.
Julgam
que por andar mais pelos lares de terceira idade, hospitais e estradas me
esqueço de todos os outros potenciais clientes? Pensam que me contento com a
recolha só dos idosos? É só uma questão de parar, prestar atenção e concluir
sem sofismas. Quem pensa assim está enganado a meu respeito. Consigo ser
omnipresente, mas estou em plenitude em cada lugar como se fosse único. Por
isso faço proveitosa colheita em vários pontos da terra em simultâneo. Partindo
deste pressuposto, facilmente se entende que estivesse a rondar a Residência
Sénior de Mais Qualidade de Vida desde a sua fundação sem descurar nenhuma
outra, as habitações particulares ou qualquer lugar onde haja pessoa. Naquela
Residência, encantava-me ver a elegância das mulheres e homens a quem as
funcionárias sorriam com um sorriso diferente do meu. O meu aproximava-se de um
namoro para ganhar a confiança de todos os que pretendia levar comigo com
tranquilidade e sem pressa, indiferente a orações, lágrimas ou promessas.
Há três
meses, ao ver Quintino entrar para aquele lugar onde a vida se esgota a um
ritmo que me encanta, esfreguei as mãos de contente: ali tinha mais um que
entrara para o grupo dos que certamente me aceitariam como companheira de
jornada por um tempo incerto, mas necessariamente limitado. Acolhi-o em festa
porque sou uma senhora de bem, mas ele estava ali perdido da vida dele. Eu
sabia que reagiria assim antes dele passar o umbral daquela porta senhorial e
estava ali para aliviar o seu sofrimento. Lembro-me bem como entrou contrariado
e a referir-se ao passado como se sempre tivesse sido o homem mais feliz do
mundo. Estava a tomar a parte pelo todo, mas isso é um erro tão comum que o
desvalorizei deveras. Fora feliz uns vinte anos, mas onde ia isso? Essa fase
era distante, mas, ainda que fosse recente, seria impossível reverter o tempo
porque este anda sempre para a frente. Na atualidade, vivia de memórias e, como
saltava à vista dos seus companheiros, mal podia com as calças e estava
dependente da ajuda alheia para a satisfação das necessidades mais básicas. Ao
contrário de todos os outros que sorriam entre eles e para mim, o novo utente
mantinha o seu ar sisudo como se todos estivessem em dívida com ele e ninguém
lhe quisesse pagar. Bem queria eu tratá-lo por amigo e levá-lo pacificamente
quando chegasse a sua hora, mas a tarefa estava a ser complicada pela
casmurrice dele. Para quê? Que resultados esperava naquela luta desigual
comigo?
Quintino
infernizava tudo e todos naquele lugar tradicionalmente sossegado porque em vez
de aproveitar ao máximo o presente consumia-se com as memórias do passado. As
suas conversas eram monótonas e enfadonhas porque a casa que tanto lhe custara
a construir aparecia-lhe na memória e vinha à tona nos momentos mais
inoportunos. Se fosse um homem inteligente, teria aproveitado a ocasião do
aniversário do neto para a visitar e se despedir dela pela última vez com a
serenidade e respeito que lhe merecia. Sim, porque aquela era a sua última
oportunidade, como só eu sabia. Eu acompanhei-o sem dar nas vistas, como faz
parte do meu protocolo. Entrou, verificou se estava tudo como o deixara, chorou
sobre a fotografia da esposa e seguiu revoltado para casa da filha onde o
jantar estava à espera: variado, abundante, saboroso e bem confecionado.
Comer
fazia parte dos seus prazeres naturais e indisfarçáveis. Ali estava no seu
ambiente ou, se quisermos, no seu elemento. Antes ainda de ser dada ordem para
cada um ocupar o seu lugar na lauta mesa, Quintino fora petiscando um pouco de
cada travessa. Eu achava graça àquela voracidade porque pressagiava uma morte
por excesso de gula, mas o estômago dele aguentava aquele esforço sem
fraquejar. Tudo isto antes da filha ter dado ordem para todos se dirigirem para
a mesa e começarem. A seguir, associou-se à animação coletiva. Se era festa, o
que tinha a fazer era recomeçar como se nada tivesse comido a título de
aperitivo. Quélia dava-lhe os parabéns pela atitude. Assim mesmo é que gostava
de o ver.
Quando
o estômago se recusou a receber mais nada, o semblante de Quintino mudou
radicalmente e o seu discurso também.
- Está
mal disposto? Prove o leitão, pai. Fui eu que o assei no meu forno.
Recusou-o.
Eu estranhei aquela recusa depois do que tinha visto. Ter-se-ia apercebido da
minha presença? Mas como? Que fiz eu que o levasse a queixar-se que naquele dia
nada lhe «fazia sangue»? Eu pensaria o contrário: aquele entusiasmo
inicial era de quem partia do pressuposto que tudo lhe fazia sangue. Deixava-me
confuso.
- O pai
gostava tanto de leitão e hoje vai fazer-me a desfeita de nem provar?
-
Queria ir para a minha casa. Sinto saudades.
De
barriga cheia, que queria mais? Há gente muito estranha e Quintino estava em
tal confusão mental que nem ele sabia explicar o que lhe estava a acontecer. Eu
estava inocente, mas todo ele era um lamento pegado, algo que me estava a
deixar incomodada pois eu estava ali sem pressa em cumprir a minha missão que
vem desde o início do mundo. Fiquei perturbada ao vê-lo mais cansado da vida do
que era suposto com o apetite que testemunhei à sua chegada, até porque sabia
que na Residência onde estava internado os alimentavam muito bem.
- Temo
que a minha vida esteja por um fio. Que mal fiz a Deus para me tratar assim?
Que
tinha Deus a ver com aquilo? Estava ali eu com autonomia suficiente para
decidir sobre o momento oportuno para o levar comigo. Quereria antecipar a
hora? Para quê? Lembrar-me-ia dele, podia ter a certeza.
Aquelas
palavras incomodaram-me, mas provocaram uma onda de choque em todos os
presentes e o ambiente que devia ser de festa passou a ser dominado pelo
desconforto que se seguiu. Como podiam aceitar que se queixasse de forma tão
veemente quando estavam a fazer tudo o que podiam para lhe dar toda a qualidade
de vida a que uma pessoa da sua idade podia aspirar?
Da
minha parte, pensei logo na possibilidade de alterar a minha agenda. Tudo
apontava nesse sentido: o ar carregado de todos os presentes, mais parecia de
velório do que de aniversário da neta. E se antecipasse a sua hora?
Faria
mal se andasse ao sabor dos apetites dos meus amigos e, sem qualquer
intervenção da minha parte, assisti às advertências uma vez e outra vez
apelando à calma e ao respeito por mim e por todos os presentes.
Teimoso! Remetia-se ao silêncio ou respondia com um encolher de ombros interpretado como vontade deliberada de repetir as mesmas palavras as vezes que fossem necessárias se as quisessem ouvir. Eu sorria àquela pertinácia e todos os restantes tinham deixado de o ouvir, gesto supremo de desprezo para quem o merece. Será que ele sabia que se recusavam a suportar-lhe essa ousadia? Se continuava a ter as suas faculdades mentais ativas era obrigatório que soubesse, pois ficara explícito na ameaça repetida, ou se calava ou metiam-no no carro e devolviam-no à procedência.
Que adianta buscar a morte
Se ela vai lembrar-se de nós?
Morre quem tem azar ou sorte
Mas há de ser sempre a sós.
-
Oh!... Vós é que sabeis – reagiu como quem desiste de lutar pelo quer que seja
e aceita entrar no rol dos meus amigos mais chegados e primeiras opções para a
minha atividade.
- Logo
hoje, pai?! Maldita a hora em que pensei ir buscá-lo!
Bem
queria deitar água naquela fervura, mas seria meter-me numa discussão que me
era indiferente e onde ela estava convencida que tinha toda a razão do seu
lado.
- Quisemos
partilhar consigo um momento de alegria e veio estragar tudo porquê?
- Quero
ficar na minha casa.
- Acha
que tem saúde para ficar sozinho?
- Eu
quero morrer na minha casa.
Quem
lhe prometera esse desfecho? Ninguém me consultara sobre este caso nem eu
abriria mão do segredo. Há assuntos que têm de ser guardados no grau máximo de
segredo e nisso tenho um comportamento exemplar.
Incomodava-me
ver que a escalada de mal-estar era evidente. Pensei em agir, mas seria uma
alteração tão grande dos planos que seria negar-me a mim mesma por uma
ninharia. Agora invertiam-se os sentimentos: era toda a família a achar que
nada daquele banquete lhe fazia sangue.
A filha
de Quintino estava a ficar pelos cabelos e capaz de cometer uma loucura. Se ela
soubesse que eu estava presente, teria pedido a minha intervenção, fugindo a
arquear com a responsabilidade do desfecho como fizera com sucesso noutros
momentos similares. A grosseira dissimulação era evidente nas suas palavras ao
afirmar que tinha sido um gosto ir buscá-lo para viver com eles aquele momento
de alegria que bem podia ser o último.
- Quero
morrer na minha casa, Quélia – repetiu. – Percebe isso de vez. Ali sou dono e
senhor e lá sinto-me um desterrado. Se me levais para a Residência onde tenho
estado, mato-me.
- Para
quê essa chantagem e gosto em estragar um momento que devia de ser de festa?
Nunca fizeste nada parecido ao longo da tua vida.
-
Escuta-me bem. Se me levais para a Residência onde tenho estado, mato-me.
- Faz o
que quiseres, mas temos de te levar quanto antes para que nos deixes em paz.
- Se
morrer, deixo-vos em paz. É isso que quereis?
Estava
enganado quanto à paz que se seguiria à sua morte nos dias imediatos. Isso
aconteceria depois. Logo que se soubesse que eu o tinha levado comigo, haveria
sempre a perturbação da paz, mas isso aconteceria qualquer que fosse o momento
da sua morte. Quanto a quererem que isso acontecesse quanto antes, talvez fosse
essa a vontade geral, mas eu trabalho ao meu ritmo e sou insensível à pressa ou
vontade de atrasar das pessoas, mesmo quando as vejo atingir o limite da sua
paciência, como acontecia naquele quadro. Tenho de ser imparcial nas minhas
apreciações e admitir que depois de tudo o que acontecera, uma pergunta
daquelas merecia uma resposta afirmativa e retiro o meu chapéu a quem refreou a
língua para amenizar as águas. A revolta pairava no ar, na filha, no genro e
nos netos. A única que mantinha a serenidade de sempre era eu que mantinha a
lucidez, ainda que começasse a sentir uma vontade enorme de agir depressa para
satisfazer a minha avidez, sentindo como sinto prazer em levar comigo homens e
mulheres de qualquer idade ou condição e Quintino estava mesmo a pedir. Para a
família todas as horas são más, porém, se o ambiente era de cortar à faca,
teria sido muito pior se os convidados tivessem aparecido. Seria uma vergonha.
Aquele sujeito mal sabia o que queria, mas eu queria distinguir os momentos. Se
pensasse levá-lo comigo nessa noite, mais pareceria um castigo do que um gesto
amigo como soem ser todos os momentos da minha colheita. Há momentos para tudo
e aquele pretendia-se que fosse de festa e harmonia. Eu pactuara com a
tranquilidade e a harmonia. Vir-me-ia à mão sem ter de me envolver naquele
mal-estar. Se tombara para o lado da revolta sentida de forma diferente por
todos os presentes, nada tinha a ver com isso. A de Quintino fora pública e
notória; a dos restantes, disfarçada, mas adivinhada e nem por isso menor do
que a dele. Pudessem eles desfiar um rosário de insultos e chamar-lhe-iam tudo
o que se pode chamar a quem se odeia, rogariam pragas de morte ou
substituir-me-iam, o que, apesar de raro é sempre uma solução que me poupa
críticas.
Silêncio
entre os presentes. Dispensavam-se palavras que mais ateariam o fogo que os
consumia do que o reduziriam. O som da televisão foi colocado num volume
exagerado que garantisse que mais nada se ouvia à volta, mas eu ouvia-lhes a
alma e sentia uma voracidade enorme pela alma de Quintino. O facto de agir de
forma tão secreta justificou aquela tensão que se gerou: estavam a pedir que eu
agisse, como se andasse ao mando de alguém.
Que se desenganem. Sei como sou acusada de ter poucos amigos, mas que posso fazer? Sinto um prazer danado cada vez que faço a minha colheita. Quintino estava previsto para outro momento, mas se tiver de ser agora…
Há quem viva a vida à pressa
Porque sabe me é curta e bela,
Há quem peca e se confessa
Quando a morte está à janela.
Eu
olhava para tudo aquilo a esfregar as mãos de contente: embora fosse eu a
levá-lo, toda a culpa recairia sobre Quélia. Há momentos assim na minha ceifa.
Umas vezes são os próprios, outras vezes os familiares, os amigos ou os
inimigos que julgam substituir-me, mas a única coisa que fazem é carregar com a
responsabilidade da minha ação. É um prazer redobrado o que sinto: levo mais um
comigo e ainda me fico a rir com o papel que os outros assumem. É por isso que
vou incentivar Quélia a fazer o que me convém com urgência. Ela nem sabe que
tenho acompanhado Quintino e que urge acabar com o ambiente pesado que ele
gerou. Com o meu contributo vai haver uma explosão de dor, mas estou habituada
a assistir a isso.
Encostei-me
a Quélia sem ela me ver, ouvir ou sequer perceber a minha presença em nenhum
momento.
- Em
que posso ajudar? – perguntei solícita. – Vejo que tens tudo o que precisas
para obter o resultado que pretendes. Contavas com isto, pois claro.
Esqueceste-te onde colocaste o frasco do veneno que compraste na semana passada
e que se revelou tão eficaz noutros momentos? Eu sou tua amiga. Anda, levo-te
ao local sem hesitações. Estás a vê-lo? Pois claro que só podia estar aqui.
Ninguém mais lhe tocou. Estás agradecida? Ora essa! Dispenso agradecimentos.
Estou a cumprir a minha função. Para isso é que existo. Agora continua. É
vergonha deixar um trabalho a meio. Como lho vais dar?! Ora essa! É o mais
fácil. No estado de exaltação em que o vejo, faz tudo o que lhe mandares fazer.
Coragem. Nesta fase do banquete, é só escolheres entre a salada-de-fruta e o
bolo. Preferes o bolo? Pois seja como entenderes. É mais minuto menos minuto.
Levo-o num momento de felicidade para todos: tu sais-te bem, ele aproveita a
festa até ao fim e eu passo a contá-lo por antecipação entre a minha colheita
de hoje.
Tudo
estava consumado. Apeteceu-me pedir desculpa pelo incómodo, mas, como ninguém
me iria acusar, preferi mostrar algum enfado. Queixei-me com a ironia que me é
peculiar.
- Foste cruel comigo, Quélia. Obrigaste-me a fazer trabalho extra num dia em que pensara em poupar-me. Devia exigir-te um pedido de desculpa, mas como sinto o enorme prazer de colher sem esforço, fico-te grata. Vejo que pertences àquele grupo de pessoas que conseguem ser mais desmancha-prazeres do que eu. Para mim é bom: posso continuar a conviver com os teus parentes e amigos sem me odiarem. É verdade que isso em nada altera a minha missão e um dia levá-los-ei com muito gosto, como acontece com todos os outros. Se quiseres, podes fazer o mesmo que fizeste ao teu pai, ao teu avô e ao teu tio, ao teu marido, aos teus filhos, aos teus primos, a quem quiseres. Assim mesmo é que se faz: sem deixar rasto e associando-te ao luto com choro compulsivo e altissonante, maior do que o de qualquer dos presentes. Um trabalho discreto e eficaz, muito parecido com o que faço sem nada alterar desde há milhares de anos. Mas fico feliz quando encontro pessoas como tu que sabem agir com frieza contra os parentes que se mostram teimosos e inoportunos cada vez que estão à sua frente. Mas… espera aí. Quintino era inconveniente antes de vir à festa? Vivia no lar. Ah! Pois. Chegavam-te ecos das queixas que dava na residência. Isso é péssimo para uma mulher honrada como tu. Teve o que merecia.
Se faz um cesto, faz um cento
Lá consta na sabedoria antiga…
Se foge a uma dor ou tormento
Dá à morte uma ajuda amiga.
Quélia
ficou feliz com o meu elogio. Pudera! Todos gostam de ver o seu desempenho
reconhecido e ela tivera uma atitude que me enchia as medidas e sentia-me na
obrigação de exteriorizar o que sentia.
Caprichei
e talvez fosse a única a dar-lhe os parabéns pelo seu trabalho planeado, frio,
profissional e impune, pelo menos até ao presente. Quanto ao futuro, só nos
interessaria a nós, mas com autonomia diferente: enquanto ela agiria sempre
como minha colaboradora ou cúmplice, eu continuaria a gozar de toda a liberdade
do mundo e de uma coisa que tinha a certeza: um dia recolhê-la-ia com a mesma
ternura que me conheceu hoje, como se sempre tivesse sido a mulher mais
virtuosa do mundo. É esse o meu trabalho. Castigos ou prémios é lá com a
justiça, com Deus e com o Diabo. Que se entendam! Capricho pela ética
profissional e «cada macaco no seu galho…»
Retirei-me
a celebrar aquele feito. Tinha motivos para estar orgulhosa de mim: embora
fizesse parte do meu quotidiano, era mais um troféu bem merecido e, como sou
tão interesseira, nem sequer ia repartir os louros com Quélia, a quem passei a
amar tanto que volvido pouco tempo a fui buscar à prisão onde penava mais do
que passaria a penar no inferno.
Com
todo o prazer. Para isso é que sou a morte.
Júlio Rocha (6/4/2025)
Dr. Rocha como sempre deixa uma grande mensagem. Que a vida o ajude a partilhar connosco, o seu pensamento
ResponderEliminarInteressante relato na primeira pessoa (um pouco ao estou de Kafka?) expondo a tragédia da vida e da morte no ambiente quotidiano dos mortais que vivem a vida e ignoram a morte.
ResponderEliminarObrigado Dr. Rocha.
Zé Mesquita
Arrepiante...
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