CRENDICES
Há quem veja no que vejo
Mais do que consigo ver
Ou por morrer de desejo
Ou porque lhe dá prazer.
Cada coisa no seu estado
Tem intacto o seu poder
Pois até estando de lado
Todo o lado tem que ver.
Há tantos malabaristas
Com luas e com luares
Que só para dar nas vistas
Mandam palpites para os ares.
Quem semeia em lua nova
Terá muito que aprender,
Mas pedirá contraprova
Se o seu renovo crescer.
Deitar pinto à terça-feira
É perder frangos e ovos...
Se a sentença é verdadeira
Lá se vão velhos e novos.
Se a mulher vai ao vinho
Quando se vê menstruada,
Ou deixa tudo no caminho
Ou tudo acaba em nada.
Casar filha à sexta-feira
É um risco que se assume
Ao pôr os pés em braseira
Ou colocar as mãos no lume.
Se as uvas forem esmagadas
Pelos pés de uma mulher
Ou ficam logo estragadas
Ou seja o que Deus quiser.
Pés delicados nos lagares
Se andam ali por seu gosto
Tratarão com seus vagares
Os bagos que serão mosto.
Se vejo as filhas mais a mãe
A bom ritmo e a compasso,
Eis que entro eu também
Alegre em tudo o que faço.
Júlio Rocha (5/10/2010)
Bom trabalho, parabéns,continue assim 👏🏻
ResponderEliminarExcelente forma de relatar as crendices do imaginário popular.
ResponderEliminarParabéns.👏
Continua.
Um abraço
O seu poema foi lido com gosto — e que as “crendices” de ontem são hoje, nas suas mãos, poesia crítica e bem temperada com graça. Continue!
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