CRENDICES

Há quem veja no que vejo

Mais do que consigo ver

Ou por morrer de desejo

Ou porque lhe dá prazer.


Cada coisa no seu estado

Tem intacto o seu poder

Pois até estando de lado

Todo o lado tem que ver. 


Há tantos malabaristas

Com luas e com luares

Que só para dar nas vistas

Mandam palpites para os ares.


Quem semeia em lua nova

Terá muito que aprender,

Mas pedirá contraprova

Se o seu renovo crescer.


Deitar pinto à terça-feira

É perder frangos e ovos...

Se a sentença é verdadeira

Lá se vão velhos e novos.


Se a mulher vai ao vinho

Quando se vê menstruada,

Ou deixa tudo no caminho

Ou tudo acaba em nada.


Casar filha à sexta-feira

É um risco que se assume

Ao pôr os pés em braseira

Ou colocar as mãos no lume.


Se as uvas forem esmagadas

Pelos pés de uma mulher

Ou ficam logo estragadas

Ou seja o que Deus quiser.


Pés delicados nos lagares

Se andam ali por seu gosto

Tratarão com seus vagares

Os bagos que serão mosto.


Se vejo as filhas mais a mãe

A bom ritmo e a compasso,

Eis que entro eu também

Alegre em tudo o que faço.

Júlio Rocha (5/10/2010)

Comentários

  1. Mariana :)5/6/25 14:48

    Bom trabalho, parabéns,continue assim 👏🏻

    ResponderEliminar
  2. Anónimo5/6/25 16:37

    Excelente forma de relatar as crendices do imaginário popular.
    Parabéns.👏
    Continua.
    Um abraço

    ResponderEliminar
  3. O seu poema foi lido com gosto — e que as “crendices” de ontem são hoje, nas suas mãos, poesia crítica e bem temperada com graça. Continue!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

CASTIGO

APRESENTAÇÃO

QUERIDO DESTINO