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A mostrar mensagens de fevereiro, 2025

DONOS DAS GRUTAS

Anda o homem toda a vida, Seja às claras ou às escuras, Tentando em certa medida Guindar-se para as alturas. - Acorda, Vanda, está na hora de irmos comer qualquer coisa implorou o Arnaldo entre afagos. – Anda, mulher. Com o teu prestígio, ninguém te perdoaria a ausência por muito lógicas que te soassem as razões invocadas. - Ora dorme e deixa-me em paz! Ainda tenho muito sono. Quem tem trabalho que o faça! - Como te havia de deixar? Lembra-te que hoje é a grande noite... - Noite de lua cheia? Gosto da lua cheia e do sangue quente que me fica mais acessível nestas circunstâncias. - Hoje há outras razões que a tornam diferente e memorável. Esqueceste-te? É o Congresso dos Noctívagos Alados, presidido pelo Grão-mestre Rasgo D׳Asa, que termina o seu mandato e está indisponível para continuar à frente dos destinos da legião e, como tal manifestou a sua indisponibilidade para uma reeleição, o que significa que vai haver eleições para o lugar de grão-mestre. Momento alto da noite como acontec...

CASTIGO

Até para ser animal É preciso alguma sorte Há quem ache natural Que sofram até à morte.   As calças do Carlos davam mais trabalho à mãe do que a roupa do resto da família junta. Os remendos das calças eram tão frequentes que a mãe o ameaçara que qualquer dia o obrigava a andar despido se lhe aparecesse com as calças rotas. O miúdo desfazia-se em promessas que seria a última vez, mas, quando surgia a oportunidade, esquecia-se de tudo e deixava-se levar pelo impulso e pela fantasia do momento. Onde avistasse um ninho, era fatal como o destino que havia de chegar indiferente aos danos que se pudesse causar ou aos estragos que provocasse na roupa. A mãe protestava. Que assim era impossível, que tinha de mudar de atitude, que todos os pássaros juntos valiam menos do que um par de calças, que havia de o acusar à guarda, que… Nada. Indiferente às ameaças e aos castigos, o malvado do rapaz queria lá saber do que os outros pudessem pensar? Antes o fizesse e saberia que, em toda a região...

APRESENTAÇÃO

Ao olhar para a linha da minha vida, facilmente encontro um elemento que me acompanhou desde muito cedo: a paixão pelos livros. Na adolescência, a minha imagem de marca era andar sempre acompanhado por uma bolsa de pano onde levava dois livros para ler à sombra dos freixos e, quando o sono era muito, metê-los debaixo da cabeça a servir de almofada, como se o seu conteúdo pudesse ser absorvido por osmose. Foram dezenas de livros que compulsei nessa fase e o hábito de ler enraizou-se de tal forma que ainda hoje o mantenho. A escrita veio mais tarde quando as sebentas da universidade ficaram arrumadas e libertaram horas para o ato criativo. Professor como profissão e viciado em livros, escrita e sudokus por necessidade terapêutica, é no esforço criativo que encontro maior motivação para desvalorizar tudo o que possa correr menos bem à minha volta porque é no mundo da ficção que me sinto senhor absoluto dos planos e realizações que me entusiasmam. Nesse espaço de liberdade, as páginas A5 f...

TORNAM-SE CUCOS

ATO I Idália e Luísa conversam em tom impercetível, mas nitidamente aborrecidas com algo que está a acontecer na escola e que as perturba. A aproximação do delegado sindical que só reconhecem depois, obriga-as a calarem-se por momentos. DELEGADO SINDICAL - ( provocador ) Porquê essa revolta toda? Até parece que aconteceu alguma catástrofe na escola ou estão a fazer uma tempestade num copo de água? IDÁLIA - Problema na escola. E o pior é que se prolonga no tempo. DELEGADO SINDICAL - Contem-me tudo. LUÍSA - Tem a ver com o nosso chefe. DELEGADO SINDICAL - Geral ou do pessoal? IDÁLIA - Os dois. Tal um, tal outro. Mas agora estávamos a comentar a forma como nos avaliou o chefe do pessoal. DELEGADO SINDICAL - ( espantado ) Avaliou-as com uma classificação negativa? Pode lá ser?! Umas funcionárias tão zelosas merecem ser avaliadas com bom ou muito bom, no mínimo. LUÍSA - Quem o viu e quem o vê!! (mostrando o impresso com a classificação de BOM ). Uma vergonha, uma vergonha ...