RISCOS
Quando passo rente a alguém Que olha o passado a sorrir Pergunto se ainda convém Que alguém pense em desistir. As sementes que nascem aqui Neste espaço dos cativos São o melhor que um dia vi Para mostrar que estamos vivos. Cruzo-me com os peregrinos Que vêm em sentido oposto Uns homens, outros meninos Vivem a história a seu gosto. No recato em que a palavra Jorra em dedos e se faz luz É como porta que se abra A penitente junto à cruz. Em cada texto que escrevo, Para revelar meus segredos Sei que faço o que não devo, Mas faço-o a tremer de medos. Exponho palavras ao perigo Semeio-as entre hesitações Como o semeador ao trigo Ou o trovador às canções. Palavra que me sai dos dedos Deixo-a entregue à própria sina Com a sua coragem ou medos Em transe ou parada à esquina. Se morre em qualquer gaveta Coberta da poeira de anos Tem a sorte de uma corneta A que furassem os canos. Desejo sorte a quem parte Procuro a sorte onde estou Bem basta o revés da arte Que antes de nascer abortou. A perda de...